Língua - Vidas em Português: relatos.

 Alyce Lima da Silva, turma 302.


a)Rosário Macário:

A gente de Goa gosta de pão feito na lenha, essa palavra veio dos portugueses, pão. A gente que mora aqui é toda portuguesa, meus pais falavam português, eu amo falar português. Eu falo inglês, hindi, arabic e português, mas nunca esqueci português.

b)Mia Couto: 

Estamos no Ilha da Ilhaca, desse lado de trás quase simbolicamente é a ilha dos portugueses, separando essas duas ilhas há um pequeno canal. Eu acho que a língua portuguesa é hoje talvez uma das línguas européias com a maior vivacidade, com maior dinamismo, não por uma essência especial do português, mas por causa de uma razão histórica que ocorreu no Brasil. A língua passou a ser gerida por outros mecanismos de cultura, depois danças na língua portuguesa, o que torna o português uma língua que aceita muito, que é capaz de introduzir tonalidade e variações, que enriquecem muito a língua.

Não me interessa as leis, não me interessa este enquadramento que nos obriga a regulamentar o mundo, mas me interessa aquilo que a natureza também tem de caótico, esse ensinamento para vivermos com aquilo que não é previsível, e que está muito presente na cultura africana. O futuro é uma território sagrado em relação ao qual não devemos fazer nenhuma incursão, evidentemente há uma idéia de futuro, mas ele não pode ser nomeado, e muito menos ser manejado.

c)José Saramago:

Nós falamos e usamos tudo isso, a linguagem passou com certeza de um estado rudimentar, e aos poucos veio se tornando complexa, o que significa que quanto mais palavras conhecemos, mais somos capazes de dizer o que pensamos e sentimos. No século XVII houve um homem chamado Antonio Vieira, que viveu no Brasil, que defendeu os indígenas, foi diplomata e orador. Diz ele o seguinte: "São as afeições da vida que não há mais certo sinal de terem de durar pouco, de terem de durar muito" ora bem, isso pode dizer se de maneira muito mais simples. As vidas e as afeições, quanto mais tiverem de durar, mais perto estão de deixar de durar.

No tempo das cavernas fazíamos sons para nos comunicar, suponho que conseguíamos nos entender, e foi com esses sons primitivos que foram construindo os idiomas. Nós temos sempre a necessidade de pertencer a alguma coisa, e parece que a liberdade plena seria de não pertencer a coisa nenhuma. A língua passa a ser algo mais que um mero instrumento de comunicação, se transforma numa mina inesgotável de beleza e de valor.

d)Márcio Freitas:

Se você quiser a bala é só chamar que eu vou lhe atender com todo amor e carinho, independente de você ser branco ou preto. Eu não tenho paradeiro certo, têm horas que estou aqui em Botafogo, e as vezes estou na Penha, eu fui ladrão, funkeiro, pinchador, cantor de rap, ex líder de arrastões, quando eu botava o pé no baile funk era briga, numa certa feita, levantou uma moça evangélica, e Deus falava assim: "minha serva, fala pra ele porque se ele morrer, o sangue dele vai cair sobre sua cabeça". Depois de tudo que ela falou pra mim, eu disse pra ela que iria aceitar Jesus, eu tinha várias roupas de marca, na favela quem mais tinha era eu, então me desfiz de tudo, alguém falou que estava me escondendo do dono da favela, eu pegava nas bocas, atacando com a palavra de Deus, ele morreu, se eu estivesse me escondendo dele, hoje eu estaria desviado.

e)Rogério Gomes:

Gosto de fazer o meu comercial, fazer o povo rir, alegrar eles, sou batizado com Oxóssi, mas geralmente sou de Oxalá, tenho um ano e seis meses no candomblé. Eu agradeço a Roseane porque ela me tirou do fundo da lama, eu tive que escolher, ela, ou a maldita maconha e o pó, e então eu escolhi a minha Rosa. Já apanhei muito, não quero apanhar mais, a única coisa que eu quero, é ser feliz com a Roseane.

f)Mário Miranda:

Esta casa hoje em casa pertence a mim, mas pertenceu aos meus antepassados, ela tem 320 anos, meus antepassados levavam uma vida muito à vontade, muitas paródias, festas e bailes. Antes dos portugueses chegarem aqui, já existia essa aldeia, era uma aldeia hindu, nós fomos depois introduzidos pelo cristianismo, nós deram o nome Miranda. Está é a casa da minha vizinha, Dona Rosa Dias, quando não tenho nada a fazer gosto de vir aqui, dar umas trelas a Dona Rosa, ela fala um bom português, então quando estou com saudades de falar português, eu venho praticar com ela.

g)Dona Rosa Costa Dias:

Eu penso em português. Segundo mistério, a visita da virgem Maria à sua prima Santa Isabel, de átomos ao mó, de átomos ao mó.

h)Emiliano da Cruz:

Eu ainda acho que a vida de sossegado existe nessa aldeia, mesmo com toda ocupação que a gente tem, acho que a aldeia ainda é muito calma. Desde pequeno ouço música portuguesa, porque a emissora de Goa dava tudo em português, nada da Índia. Viver nessas casas é muito bom, mas agora é muito caro para manter tão grande casa, os carpinteiros estão muito caros, então fica difícil. Meu pai ao menos trabalhou no governo, mas outros nunca trabalharam, sempre viveram com renda de propriedades.

i)Alfredo Guembo:

Eu só sei dizer que era um hotel, mas agora não se encontra como um hotel, encontra-se como uma moradia permanente de uma pessoa. Desde 1983 eu conheço o hotel , nunca fiquei muito tempo fora do prédio, eu o conheço perfeitamente, numa casa podes encontrar dez, onze pessoas, isso não é normal, outras vivem no elevador, o prédio mudou, pra pior. 

Eu devo lutar como um homem, lutar para ganhar, eu penso em ir mais longe, mais isso vai depender das possibilidades. Se eu conseguir uma sorte de dar o fora desse país, ou dessa cidade, estou aqui parado nessa cidade perdida, eu quero conseguir uma vida melhor, eu gostaria de viver nos Estados Unidos, lá a vida é mais fácil, pelo o que eu vejo, apesar de existir muita bandidagem lá.

j)Fátima Embaló:

Quando eu entrei aqui neste centro não haviam pessoas, portanto havia meia dúzia de lojas abertas, aluguei uma loja, passado um ano, vieram mais africanos para discotecas, depois surgiram os indianos, e agora veio os chineses.

k)Dai Shaori:

Os portugueses tem um gosto mais humano, soa mais simpáticos. Nossa filha nasceu aqui em Portugal, e no hospital dão um nome português, eu escolhi Vanessa, é parecido a um nome chinês.

Liandi Xu: eu gosto do português.

l)Naoki Ikawa:

Geralmente estou pensando mais em português. Eu vim sozinho, queria vir pra cá sozinho, para o Japão, e trabalhar como cozinheiro japonês. Falar o português é lembrar da sua terra natal, eu acho que o mais importante é não esquecer a nossa própria língua. Meu sonho é juntar dinheiro e ir para o Brasil.

m)Modi Sucá: 

Estimo o meu casamento, e eu tive a idéia que este vai ser o quarto para guardar meu vestido, todos os dias que eu entro, eu fico naquela emoção, como se fosse ontem. A mulher deve servir o homem, mas nunca adorar o homem com adora o Alá. Não me visto igual aos outros, eu faço a minha moda, quando as pessoas nunca te vêem na moda é sempre bom.

n)Jack Almeida: 

Quando eu cheguei para entrar nesse programa, o primeiro choque foi quando eu estava preenchendo os papéis para me registrar, e a primeira pergunta era quem era pra chamar caso acontecer algo comigo. Tivemos várias guerras nesse país, quando chegamos aqui não tinha nada, não havia vida. Estamos em cima da mina, essa mina é conhecida como a PMD6, é a mina mais barata que existe no mundo.

Arthur Mussa: o território de todo lado tá a acusar, isso tenho sempre que pôr em consideração que é uma mina. Afasto essa régua um pouco a frente, e começo a minha escavação. Eu pude entrar na guerra, mas foi uma coisa passada, já nem quero falar mais disto, eu só quero viver livre.

o)Teresa Salgueiro:

Nós portugueses gostamos de nos reconhecer nos brasileiros, quando simpatizamos uns com os outros, acho que isso é comum, mas não posso dizer que haja total identificação, porque são diversas culturas, o Brasil é um país multicultural, Portugal também é assim, porém é um país bem menor, falamos a mesma língua, mas não falamos da mesma maneira.

Pedro Ayres: Portugal foi fundado como um filho revoltado contra a mãe, e se depois o Brasil ganhou a independência como um filho revoltado contra o pai, realmente tens a descrição de como o Brasil pensou que os portugueses encontraram um Portugal maior, quer dizer, puderam fazer aqui aquilo que não podiam lá, e constroem uma civilização quase impossível.

p)João Ubaldo:

Hoje é sábado, 11 da manhã, vou pro boteco encontrar minha turma, esse é um ritual que eu sigo quase todos os fins de semana. Me chamaram para fale no congresso, mas não vou, não sou linguista, sou apenas uma usuário da língua, a língua está evoluindo muito, e se tornou uma língua diversa, em certas áreas. Eu me inspiro muito através desse boteco, porque eu vivo muito fechado em casa, então meu contato com o mundo, muitas vezes é com o pessoal daqui mesmo.

q)Manohar Saardessal: 

Aqui os portugueses nos deram coisas boas, como a arquitetura, música, comida, bebida, mas não havia nenhuma indústria. Nomes foram mudados , e até os cristãos aqui tem fé no renascimento, reencarnação. Depois temos as literaturas, o movimento de libertação de toda a Índia, então temos a realização que nós não somos portugueses, somos indianos, e havia naturalmente um movimento contra a dominação portuguesa. Nós fomos educados em português, sou português porque o ar que eu respiro é português, pelo sangue em minhas veias, e porque a água que eu bebo é português.

r)Dilo Monteiro:

Angola há de ser sempre uma referência importante em minha vida, vivi lá desde os meus 8 anos, só depois que saí de lá, então tá lá minha infância, tá lá minha família, meu povo. Este é o centro comercial da Mouraria, onde possa várias pessoas, pode encontrar um cruzamento de várias culturas aqui.

Jardel Vieira: os valores vão se perdendo, as identidades, as culturas, porque tem mistura, há uma globalização, uma mistura de culturas, das pessoas, já está interligado.

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